Todos os dias vemos notícias relacionadas à pessoas sendo violentadas e assassinadas por serem quem são: mulheres, negros, indígenas, homossexuais, transsexuais e até crianças.  No Brasil, a taxa de feminicídio durante a pandemia cresceu 22,2%, a taxa de homicídio de negros é maior que o dobro comparado a homicídio de pessoas brancas. Já a taxa de homicídio de indígenas, cresceu 23% durante o primeiro ano do atual governo e o Brasil é conhecido como o país que mais mata a população LGBTQIA+ no mundo. Já parou para pensar o por quê isso acontece?

Infelizmente, além de toda a questão social que envolvem os públicos citados, que os empurram para a marginalidade, há por trás de tanta violência um discurso religioso que oprime mulheres, demoniza os negros, quer salvar os índios de sua ignorância espiritual e lançar no inferno a população LGBTQIA+ e, este discurso, muitas vezes, é validado pelo Estado.

A Bíblia nos conta a história da morte de Jesus, que explicitamente foi causada pelos grupos religiosos da época. Por não conseguirem explicar à luz dos seus escritos sagrados quem ou o que Ele era, o porque fazia o que fazia e, com que poder e autoridade estes grupos que, cotidianamente  guerreavam entre si, receosos de perder sua legitimidade e poder, se unem por um bem maior e, cheios de inveja, planejam seu assassinato. O que é mais intrigante na história, é que toda a trama se desenvolve com fundo de piedade e forma de mostrar a soberania e o poder de Deus. Mas que Deus é este que comunga com a morte?

No livro de João, capítulo 19, versos 19 até 22, após Pilatos – que representa o poder do Estado – interrogar Jesus, ele o entrega aos religiosos judeus dizendo que se querem crucificá-lo, que o levem, pois ele mesmo não encontrou motivo de acusação ou crime. Os religiosos, porém, insistem dizendo que pela Lei de Israel deve morrer, pois se auto declarou Filho de Deus e, vendo que Pilatos ainda queria libertar Jesus, lançam sua cartada final, dizendo que quem se declara Rei se opõe a César, e por isso deveria morrer. Ao que Pilatos o entregou para ser crucificado.

O que me chama a atenção no texto, é que ao colocar o motivo de morte de Jesus na cruz, Pilatos escreve INRI – Jesus Nazareno, O Rei dos Judeus. E isso deixa os religiosos judeus revoltados, eles protestam para que seja revisto e Pilatos responde: “O que escrevi, escrevi”.

No Brasil o Estado é laico, isto é, deve ser imparcial em relação às questões religiosas, sendo assim, precisa atuar para dar dignidade de vida a todos os cidadãos. Entretanto, muitas vezes se coloca em conflitos de interesse, sejam eles políticos, econômicos e pessoais, agindo como tutor e promotor de injustiças, como a entrega de Jesus para ser crucificado, mesmo ciente de sua inocência, validando a sua morte por ser quem era O Filho de Deus. E no caso dos grupos citados, acuado pela pressão de grupos religiosos que usam a Bíblia como instrumento de morte – declara “o que escrevi, escrevi” legitimando a violência e morte por sua omissão em criar leis e programas que realmente possam protegê-los.

Sobre o Reino de Deus, o próprio Jesus declarou: “todos os marginalizados entram nele antes dos religiosos” (paráfrase de Mateus 21:31), e louvado seja Deus, pois temos visto a ascensão de igrejas chamadas progressistas, cuja pauta assim como na teologia da libertação, são os pobres e marginalizados.

Esta teologia parte do entendimento Bíblico da opressão sofrida pelo povo e como profetas e o próprio Cristo atuaram para defender suas causas, vislumbrando um novo céu e uma nova terra onde reinam a justiça, a paz, a alegria e o amor. Estas igrejas abrem suas portas e usam seu púlpito para clamar e agir por justiça social, tendo como exemplo o Reverendo Martin Luther King, ícone da luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos; Nelson Mandela, que lutou bravamente pelo fim do Apartheid na África do Sul; Gandhi e sua luta pela libertação da Índia; Madre Tereza de Calcutá, entre outros.

E a Comunidade Cristã na Zona Leste é uma delas, temos alçado nossas vozes e usado nossas mãos para promover dignidade a todos os marginalizados, para que ninguém mais morra por ser quem é, cremos que o CRISTO já o fez por nós e, por Ele, somos enviados à promover vida abundante.

Davi dos Santos Silva, Líder CCZL Diversidade e MAE

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